NA LUZ DA VERDADE (Edição de 1931)


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23. Moralidade

Sobre a humanidade paira algo como uma escura nuvem de tempestade. Sufocante está a atmosfera. De modo apático, sob pressão abafada, trabalha a faculdade de intuição de cada um. Excessivamente tensos encontram-se somente os nervos que actuam sobre a vida sensorial e impulsiva do corpo. Estimulados artificialmente pelos erros duma educação falsa, duma concepção errónea e auto-ilusão. A tal respeito o ser humano de hoje não é normal, mas sim traz consigo uma impulsividade sexual doentia, aumentada até dez vezes, que procura exaltar, adorando-a por centenas de formas e maneiras, o que deverá acarretar a perdição da humanidade inteira.

De modo contagioso, transmissível como um hálito pestífero, actua com o tempo também sobre aqueles que procuram prender-se ainda obstinadamente a um ideal, cujos vislumbres ainda enxergam no esconderijo da semi-consciência. Bem que estendem ansiosos seus braços a isso, mas, suspirando, abaixam-nos sempre de novo, sem esperança, desesperados, quando voltam o olhar para o que os cerca. Em caótica impotência vêem, apavorados, com que grande velocidade vai se turvando a visão clara em relação à moralidade e imoralidade, perdendo a faculdade de discernimento, modificando nisso a pauta dos conceitos, de tal modo, que muito daquilo que há pouco tempo teria causado repugnância e desprezo, rapidamente passa a ser admitido como inteiramente natural, já não escandalizando mais. Mas o cálice em breve estará cheio até as bordas. Há de sobrevir um terrível despertar!

Já agora passa, às vezes, por sobre essas massas fustigadas pelos sentidos, como que um repentino e tímido encolhimento, inteiramente irreflectido e inconsciente. A incerteza se apodera por um instante de muitos corações; contudo, não chega a um despertar, a uma intuição nítida de sua actuação indigna. Acode então um zelo redobrado para jogar fora ou então abafar tais “fraquezas” ou “últimos resquícios” de conceitos antiquados. Deve haver progresso a todo custo. Mas progredir é possível em duas direcções. Para cima ou para baixo. Conforme a escolha feita. E como está agora, conduz com velocidade sinistra para baixo. O choque terá de arrebentar os que assim enverendam para baixo, quando soar a hora em que eles baterão contra uma resistência forte.

Nesse ambiente abafadiço, a nuvem de tempestade condensa-se sinistramente cada vez mais. A qualquer momento é de se esperar o primeiro relâmpago, que rasga e clareia a escuridão, que ilumina flamejantemente o que está mais escondido, com uma inexorabilidade e agudeza que traz em si libertação para aqueles que anseiam por luz e clareza, destruição, porém, para aqueles que não têm anseio pela Luz. Quanto mais tempo dispuser essa nuvem para densificar sua escuridão e pesadume, tanto mais penetrante e apavorante será também o raio, que a nuvem gera. Desaparecerá a atmosfera frouxa e branda que esconde cobiças viscosas nas dobras de sua indolência; pois ao primeiro relâmpago seguir-se-á naturalmente uma corrente de ar fresco e seco, que traz vida nova. Na claridade fria da Luz encontrar-se-ão, de repente, diante dos olhares da humanidade horrorizada, todas as monstruosidades da fantasia mórbida, despidas de suas mentiras de falso brilho. Como o abalo de um poderoso trovão será o despertar nas almas, de modo que o manancial de água vivificante da Verdade límpida possa jorrar estrondosamente sobre o solo assim afofado. O dia da liberdade desponta. Libertação do feitiço de uma imoralidade existente desde milénios e que agora chegou à máxima florescência.

Olhai em torno de vós! Observai as leituras, as danças, as roupas! A época actual esforça-se, mais do que nunca, através do abatimento de todas as barreiras entre os dois sexos, para turvar sistematicamente a pureza da intuição, deformá-la com essa turvação e colocar-lhe máscaras enganadoras, se possível, por fim, asfixiá-la totalmente. As reflexões que surgem, os seres humanos sufocam com palavras sonantes, as quais, porém, examinadas nitidamente, apenas provêm do estremecedor impulso sexual, a fim de dar sempre nova nutrição às cobiças, de incontáveis maneiras hábeis e inábeis, de modo escondido e não-escondido.

Falam do prelúdio de uma humanidade livre e autónoma, de um desenvolvimento do fortalecimento interior, de cultura do corpo, beleza da nudez, de desporto enobrecido, e de educação para a vivificação do lema: “Ao puro, tudo é puro!”, em suma: o soerguimento do género humano por meio da extinção de todo o “pudor”,(*Decência aparente) para assim criar o ser humano livre e nobre que deve conduzir o futuro! Ai daquele que ousar falar algo em contrário! Um tal atrevido será imediatamente apedrejado, sob grande vozerio, com insultos parecidos com as afirmações de que somente pensamentos impuros poderiam movê-lo a “achar algo nisso”!

Um frenético redemoinho de águas podres, do qual exala uma emanação entorpecente e venenosa que, qual um êxtase de morfina, desencadeia ilusões perturbadoras dos sentidos, para dentro das quais se deixam deslizar permanentemente milhares e milhares de pessoas, até sucumbirem enfraquecidas nisso. O irmão procura ensinar a irmã, os filhos, seus pais. Como um dilúvio, isso passa sobre todos os seres humanos, e furioso embate de ondas surge lá, onde quer que alguns prudentes, tomados de asco, reajam isolados como recifes no mar. A esses se agarram muitos que no turbilhão percebem que a própria força ameaça lhes faltar. Apraz ver esses pequenos grupos, que se encontram como oásis no deserto. Do mesmo modo reconfortante como aqueles, convidando para repouso e descanso o viajante que, lutando penosamente, conseguiu atravessar a tempestade de areia que o ameaçava aniquilar.

Tudo quanto hoje em dia está sendo pregado sob os lindos mantos do progresso, outra coisa não é senão um disfarçado estímulo ao grande descaramento, o envenenamento de todas as intuições mais elevadas no ser humano. A maior epidemia que jamais se abateu sobre a humanidade. E esquisito: é como se muitos apenas tivessem aguardado que lhes fosse dado um pretexto cabível, para eles próprios se rebaixarem ao nível de animais. Para incontáveis pessoas isso é muito bem-vindo!

Entretanto, quem conhece as leis espirituais que actuam no Universo afastar-se-á com repugnância das tendências actuais. Tomemos por exemplo apenas um desses “inofensivos” divertimentos: “Os banhos em conjunto”. “Para o puro, tudo é puro!” Isso soa tão bem que, sob a protecção desse acorde harmonioso, pode-se permitir muitas coisas. Observemos, contudo, os mais simples fenómenos na matéria fina durante um desses tais banhos. Admitamos que ali estejam trinta pessoas de ambos os sexos, e que, dessas, vinte e nove sejam realmente puras em todos os sentidos. Uma suposição que de antemão já é de todo impossível; pois o contrário é que seria mais certo, se bem que ainda raro. Todavia suponhamos tal coisa. Esse um, o trigésimo, incentivado pelo que está vendo, tem pensamentos impuros, muito embora externamente talvez se porte correctamente. Tais pensamentos corporificam-se na esfera de matéria fina imediatamente em formas de pensamentos vivas, dirigem-se para o objecto de sua contemplação e aderem a ele. Isso é uma conspurcação, quer chegue a quaisquer manifestações ou actos de agressão, quer não! A pessoa assim atingida sairá dali levando consigo essa conspurcação, capaz de atrair formas de pensamentos semelhantes que vagueiam por aí. Dessa maneira torna-se cada vez mais denso em torno dela, podendo finalmente influenciá-la e envenená-la, do mesmo modo que a trepadeira parasita muitas vezes consegue matar a árvore mais sadia. Eis os fenómenos de matéria fina, nos chamados “inofensivos” banhos em conjunto, jogos de sociedade, danças ou outros mais.

No entanto, deve ser levado em consideração que tais banhos e divertimentos, em todo caso, são frequentados por aqueles que propositadamente procuram algo para incentivar especialmente seus pensamentos e sentimentos, mediante tais contemplações! Portanto, que sujeira com isso é cultivada, sem que exteriormente se note algo na esfera de matéria grosseira, não é difícil de explicar. Da mesma forma é evidente que essa nuvem sempre crescente e condensante de formas de pensamentos voluptuosos tem de, gradualmente, actuar sobre um número incontável de pessoas que por si mesmas não procuram tais coisas. Nelas vão surgindo primeiro de modo fraco, depois, mais forte e mais vivo, pensamentos análogos, que vão sendo alimentados constantemente pela espécie actual dos “progressos” em seu ambiente, e assim um após outro desliza para dentro da corrente escura e viscosa, onde a capacidade de compreensão da autêntica pureza e moralidade vai cada vez se obscurecendo mais, até arrastar tudo às profundidades da mais completa escuridão.

Essas oportunidades e estímulos para tais excrescências proliferativas devem, em primeira linha, ser novamente eliminados! Não passam de incubadoras onde os vermes pestíferos de seres humanos imorais podem lançar seus pensamentos que, a seguir, vicejando, crescem e devastadoramente se alastram sobre toda a humanidade, criando sempre novos focos de proliferação e constituindo por fim apenas um campo enorme de excrescências asquerosas, das quais emana um halo venenoso que sufoca até mesmo o que é bom.

Afastai-vos à força desse torpor que, qual entorpecente, só aparenta um fortalecimento, mas que na verdade só consegue actuar enfraquecendo e destruindo. É evidente, se bem que também entristecedor, que em primeira linha justamente o sexo feminino ultrapassa novamente todos os limites e, em seu vestuário, rebaixou-se sem escrúpulos à condição devassa de mulher de rua. Isso só prova, porém, a exactidão do que ficou esclarecido a propósito dos fenómenos de matéria fina. É exactamente a mulher que, por natureza, em sua maior faculdade de intuição, recebe e colhe primeiro e mais amplamente esse veneno do pestífero mundo de formas de pensamentos de matéria fina, sem mesmo se dar conta disso. Ela se acha mais exposta a esses perigos, e por isso também é arrastada primeiro e, com incompreensível rapidez e de forma surpreendente, vai ultrapassando quaisquer limites. Não é em vão que se diz: “A mulher, quando ruim, é pior do que o homem!” Isso se patenteia em tudo, seja na crueldade, no ódio ou no amor! A conduta da mulher será sempre o resultado do mundo de matéria fina que a envolve! Nisso, naturalmente, existem excepções. Por essa razão também ela não está isenta de responsabilidade; pois consegue perceber as influências que investem sobre ela e dirigir sua vontade e seu actuar conforme seu arbítrio se... ela quiser! Que isso, infelizmente, não acontece com a maioria é uma falha do sexo feminino, que somente decorre em virtude da ilimitada ignorância sobre tais coisas. Grave para os tempos actuais, porém, é que na realidade a mulher também tem o futuro do povo nas mãos. E isso se dá por ser seu estado anímico mais decisivo sobre os descendentes do que o do homem. Que decadência, consequentemente, deverá trazer o futuro! Inevitável! Não poderá ser detida pelas armas, pelo dinheiro, nem pelos inventos. Também não pela bondade, nem pela política consciente. Aí devem vir meios mais incisivos.

Mas não cabe somente à mulher essa enorme culpa. Ela será sempre apenas a imagem fiel daquele mundo de formas de pensamentos que paira sobre o seu povo. Isso não deve ser esquecido. Respeitai e honrai a mulher como tal e ela se formará por esse padrão, tornar-se-á aquilo que virdes nela, e com isso elevareis todo o vosso povo! Antes, todavia, cumpre que as mulheres passem por um grande processo de transformação. Conforme elas são actualmente, um restabelecimento só poderá ocorrer por meio de uma operação radical, por um corte implacável e violento, que retira todas as excrescências com facas afiadas, e as atira no fogo! Do contrário, elas ainda destruiriam todas as partes sadias.

Para essa intervenção necessária na humanidade inteira, acorre o tempo actual sem demora, depressa, cada vez mais depressa, desencadeando-a finalmente por si mesmo! Será doloroso, terrível, mas o fim será a cura. Só então terá chegado o tempo para se falar em moralidade. Hoje isto se perderia como palavras jogadas na tempestade. No entanto, depois de passada a hora, em que a Babel dos pecados teve de sucumbir, porque desmoronou apodrecida, observai então o sexo feminino! Sua conduta e seu comportamento mostrar-vos-ão sempre conforme sois, porque a mulher, devido à sua intuição mais fina, vive aquilo que as formas de pensamentos desejam.

Este facto nos dá também a certeza de que, com a pureza dos pensamentos e das intuições, a feminilidade elevar-se-á rapidamente como a primeira àquele ideal que consideramos um ser humano nobre. Então a moralidade aparecerá com todo o brilho de sua pureza!

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Actualização mais recente desta página: 4 de Março de 2020