NA LUZ DA VERDADE (Edição de 1931) |
Eu chamo mais uma vez a atenção para o facto de que toda a vida na Criação consiste de duas espécies. Do consciente e do inconsciente. O consciente é o progresso de todo o inconsciente. Somente ao tornar-se consciente, molda-se também a imagem do Criador, que compreendemos como a forma humana. A moldagem processa-se uniforme e simultaneamente com a consciencialização.
Na primeira Criação verdadeira, então, que, por estar mais próxima do Espírito criador, também só pode ser espiritual, encontra-se ao lado do ser humano espiritual consciente, criado por primeiro, também o espiritual ainda inconsciente. Nesse inconsciente, com as mesmas propriedades do consciente, reside naturalmente o impulso para o desenvolvimento contínuo. Este só se pode dar, porém, com o aumento progressivo da consciencialização.
Quando, portanto, nesse espírito inconsciente o impulso para a consciencialização tiver aumentado até certo grau, dá-se, no desenvolvimento mais natural, um fenómeno que equivale a um nascimento terreno. Precisamos apenas prestar atenção ao nosso ambiente. Aqui, o corpo de matéria grosseira expele naturalmente cada fruto amadurecido. No animal e na criatura humana. Também cada árvore expele seus frutos. O fenómeno é a repetição de um desenvolvimento contínuo, cujo fundamento se encontra na primeira Criação, no assim denominado Paraíso.
De igual modo sucede também lá, em um determinado amadurecimento do inconsciente que anseia pela consciencialização, uma repulsão natural, uma separação do inconsciente ou também denominada expulsão. Essas partículas espirituais inconscientes, assim expelidas, formam então os germens espirituais de futuros seres humanos!
Este é o acontecimento da expulsão do Paraíso, que também foi reproduzido em imagem na Bíblia.
Esse fenómeno tem de acontecer, porque no inconsciente reside irresponsabilidade, ao passo que com a consciencialização amadurece simultaneamente a responsabilidade.
A separação do inconsciente em amadurecimento é, portanto, necessária para o espiritual, que por impulso natural quer desenvolver-se para o consciente. É um progresso, não um retrocesso!
Uma vez que esses germens vivos não podem ser expelidos para cima, para a perfeição, resta-lhes então o único caminho para baixo. Aí, no entanto, penetram no reino do enteal de mais peso, o qual nada contém de espiritual.
Assim, o gérmen espiritual que anseia pela consciencialização encontra-se de súbito em um ambiente de espécie diferente da dele, portanto, estranho, e com isso como se estivesse descoberto. Como sendo espiritual, ele sente-se descoberto e nu na entealidade mais densa. Se quiser permanecer aí, ou prosseguir, torna-se-lhe uma necessidade natural cobrir-se com um invólucro enteal, que tenha a mesma espécie do seu ambiente. De outra maneira, não consegue agir aí, tampouco se manter. Portanto, não sente apenas a necessidade de cobrir sua nudez no caminho para o reconhecimento, conforme figuradamente a Bíblia descreve, mas também aqui se trata de um processo evolutivo necessário.
O gérmen do espírito humano em desenvolvimento é então conduzido à materialidade, por caminhos naturais.
Aqui o envolve mais uma vez um invólucro necessário, da mesma constituição do seu novo âmbito material.
Encontra-se ele agora na orla mais extrema da matéria fina.
A Terra, porém, é aquele ponto de matéria grosseira, onde se reúne tudo quanto existe na Criação. Conflui para aqui de todos os sectores, os quais de outro modo se acham rigorosamente separados, devido às suas características específicas. Todos os fios, todos os caminhos convergem para a Terra, como que para um ponto de encontro comum. Ligando-se aqui e também gerando novos efeitos, são arremessadas para o Universo correntes de energia em poderoso mar de chamas! De tal modo, como de nenhum outro lugar da materialidade.
Sobre esta Terra processa-se o mais intenso vivenciar através da conglomeração de todas as espécies da Criação, para o que a materialidade contribui. No entanto, sempre outra vez, pode se dar somente pela conglomeração de todas as espécies da Criação, não de algo do divinal e nada do Espírito Santo, que paira acima e fora da Criação.—
As últimas manifestações desse vivenciar na Terra afluem, pois, ao encontro do gérmen espiritual, tão logo ele entra na matéria fina. É envolto por esses efeitos. São eles que o atraem, ajudando-o, porém, a despertar com isso sua consciencialização, e levá-lo ao desenvolvimento.
Sem ligação ainda, portanto, sem culpa, nesse limiar de toda a materialidade, ele intui as manifestações das vibrações de fortes experiências vivenciais, que se desenrolam na evolução e na decomposição de tudo quanto é material. Aí lhe advém então o anseio de um melhor conhecimento. Mas tão logo forme nisso um desejo, sintoniza-se voluntariamente, ao formular esse desejo, com qualquer vibração, seja ela boa ou má. E, imediatamente, devido à actuante lei da força de atracção da igual espécie, será atraído então por uma espécie igual, que é mais forte do que a sua. É impelido para um ponto onde a espécie almejada é venerada de modo mais veemente do que era seu próprio desejo.
Com tal anseio íntimo, o seu invólucro de matéria fina condensa-se logo de modo correspondente a esse anseio, e a lei da gravidade o deixa afundar ainda mais.
O verdadeiro vivenciar, porém, do anseio nele latente, só lhe oferece por fim a Terra de matéria grosseira! — —
Sente-se, por isso, impelido a prosseguir até o nascimento terreno, porque quer passar do petiscar também ao provar e saborear. Quanto mais intensos se tornam os desejos por prazeres terrenos do espírito que desperta no petiscar, tanto mais espesso forma-se também o invólucro de matéria fina que traz consigo. Com isso adquire também mais peso e afunda vagarosamente em direcção ao plano terreno, onde unicamente se acha a oportunidade para a realização dos desejos. Tendo, porém, chegado até esse plano terreno, tornou-se com isso também amadurecido para o nascimento terreno.
Nisso, a lei da força de atracção da igual espécie também se manifesta mais nitidamente. Cada um dos espíritos imaturos, exactamente de acordo com o desejo ou pendor que traz em si, é atraído como que magneticamente por um ponto, onde o conteúdo do seu desejo chega à realização através de seres humanos terrenos. Se tiver, por exemplo, um desejo de dominar, não nascerá acaso em um ambiente onde ele próprio então possa viver na realização de seu desejo, ao contrário, será atraído por uma pessoa com acentuada tendência para dominar, que, portanto, intui do mesmo modo como ele, e assim por diante. Expia dessa forma, em parte, também já o errado, ou acha a felicidade no certo. Pelo menos tem oportunidade para tanto.
Devido a esse fenómeno supõe-se, pois, erroneamente, transmissão hereditária de propriedades ou de faculdades espirituais! Isso é errado! Externamente, contudo, pode aparentar assim. Na realidade, porém, uma criatura humana não pode transmitir aos filhos nada de seu espírito vivo.
Não existe nenhuma hereditariedade espiritual!
Pessoa alguma se encontra em condições de ceder sequer uma reduzidíssima partícula de seu espírito vivo!
Nesse ponto cultivou-se um erro que lança suas sombras estorvantes e perturbadoras sobre muita coisa. Nenhum filho pode ser grato aos pais por qualquer faculdade espiritual, tampouco, porém, censurá-los por defeitos! Seria erróneo e uma injustiça condenável!
A obra maravilhosa da Criação é tão completa e perfeita que nunca poderia permitir tais actos arbitrários ou casuais de hereditariedade espiritual!
Essa força de atracção de todas as espécies iguais, tão importante no nascimento, pode partir do pai, bem como da mãe, assim como de cada um que esteja na proximidade da futura mãe. Por isso uma futura mãe devia ser cautelosa em relação àqueles que ela permite ficar em sua proximidade. Cumpre ponderar aí que a força interior reside predominantemente nas fraquezas, e não acaso no carácter exterior. As fraquezas trazem períodos importantes de vivenciar interior, que resultam em vigorosa força de atracção.
A vinda terrena do ser humano compõe-se, pois, de geração, encarnação e nascimento. A encarnação, isto é, a entrada da alma, ocorre no meio do período da gravidez. O crescente estado mútuo de maturação, tanto da futura mãe, como da alma em vias de encarnação, leva também ainda a uma ligação especial mais terrena. É essa uma irradiação que é provocada pelo mútuo estado de maturação, e por fenómeno natural buscam-se reciprocamente de modo irresistível. Tal irradiação vai se tornando cada vez mais intensa, prendendo a alma e a futura mãe, uma à outra, cada vez mais forte e de maneira exigente, até que por fim, em determinada maturidade do corpo em desenvolvimento no ventre materno, a alma é literalmente absorvida pelo mesmo.
Esse momento de ingresso ou de absorção acarreta também, naturalmente, os primeiros abalos do pequeno corpo, o que se manifesta por contracções, que são denominados de os primeiros movimentos da criança. Com isso se processa na futura mãe, muitas vezes, uma transformação de suas intuições. De modo bem-aventurado ou opressor, conforme a espécie da alma humana que ingressou. —
Com o pequeno corpo, a alma humana desenvolvida até tal ponto veste então o manto da matéria grosseira, que é necessário para, na matéria grosseira terrena, poder vivenciar, ouvir, ver e sentir tudo, de modo pleno, o que só se torna possível através de um invólucro ou de um instrumento da mesma matéria, da mesma espécie. Só então poderá passar do petiscar para o saborear propriamente e, com isso, para o discernimento. É compreensível que a alma tenha de aprender primeiro a servir-se desse novo corpo como instrumento, e a dominá-lo.
Eis resumidamente o processo evolutivo do ser humano até o seu primeiro nascimento terreno.
Pois já desde muito tempo, por fenómeno natural, alma nenhuma pode vir mais à Terra para a primeira encarnação, pelo contrário, os nascimentos trouxeram almas que já haviam passado, no mínimo, por uma vida terrena. Por isso, já no nascimento se encontram estreitamente enlaçadas por vários carmas. A força sexual propicia a possibilidade de se libertarem disso.
Devido ao envolvimento pelo corpo de matéria grosseira, a alma de um ser humano fica isolada, durante todos os anos da infância, dos influxos que do lado de fora procuram alcançar a alma. Todas as trevas, todo o mal, que vivificam o plano terreno, encontram seu caminho para a alma impedido pelo corpo terreno de matéria grosseira. Por isso, também não podem obter nenhuma influência sobre a criança, não podem causar-lhe dano. O mal, porém, que a alma novamente encarnada trouxe consigo do vivenciar anterior, permanece-lhe mantido naturalmente de idêntico modo durante a infância.
O corpo constitui essa parede divisória, enquanto se achar ainda incompleto e imaturo. É como se a alma tivesse se retirado para um castelo, estando a ponte levadiça erguida. Assim, durante esses anos, há um abismo intransponível entre a alma infantil e a Criação de matéria fina, onde vivem as vibrações de matéria fina de culpa e de expiação. Fica assim a alma abrigada no invólucro terreno, amadurecendo para a responsabilidade e aguardando o momento que traz a descida da ponte levadiça erguida, para a verdadeira vida na materialidade.
O Criador dotou através de leis naturais o instinto imitativo em cada criatura, em lugar de um livre-arbítrio lá, onde ainda nenhum livre-arbítrio actua. Denomina-se isso em geral de “receptibilidade infanto-juvenil”. O instinto de imitação deve preparar o desenvolvimento para a vida terrena, até que, nos animais, ele seja enriquecido e amparado por experiências, nos seres humanos, porém, elevado pelo espírito no livre-arbítrio para o actuar auto-consciente!
Falta, pois, ao espírito encarnado no corpo da criança, uma ponte de irradiação que só poderá formar-se na época da maturação corpórea, com a força sexual. Ao espírito falta essa ponte para a actuação plenamente efectiva e realmente laboriosa na Criação, actuação que somente pode ser efectuada pela possibilidade de irradiação sem lacunas através de todas as espécies da Criação. Pois apenas nas irradiações se encontra a vida, e somente delas e através delas surge movimento.
Durante esse tempo a criança, que só pode actuar de modo pleno sobre o seu ambiente a partir de sua parte enteal, não, porém, a partir do núcleo espiritual, tem, perante as leis da Criação, um pouco mais de responsabilidade do que um animal em desenvolvimento máximo.
Nesse ínterim vai amadurecendo o corpo jovem e, pouco a pouco, nele desperta a força sexual, que se encontra somente na matéria grosseira. Ela é a mais fina e a mais nobre flor de toda a matéria grosseira, o mais elevado que a Criação de matéria grosseira pode oferecer. Em sua delicadeza ela constitui o ápice de tudo quanto é de matéria grosseira, isto é, terrenal, que mais se aproxima da entealidade, como ramificação viva mais extrema da materialidade. A força sexual é a vida pulsátil da materialidade, e só ela pode constituir a ponte para a entealidade que, por sua vez, proporciona a continuação para o espiritual.
Por esse motivo, o despertar da força sexual no corpo de matéria grosseira é como o processo do abaixar da ponte levadiça de um castelo até então fechado. Com isso poderá, então, o morador desse castelo, isto é, a alma humana, sair plenamente preparada para a luta, na mesma medida, porém, poderão chegar a ela também os amigos ou inimigos que cercam esse castelo. Tais amigos ou inimigos são, antes de tudo, as correntezas de matéria fina de espécie boa ou má, mas também os do Além que aguardam apenas que se lhes estenda a mão mediante algum desejo, com o que têm condições de agarrar-se firmemente e exercer influência de igual espécie.
As leis do Criador, porém, em intensificação a mais natural, permitem entrar, de fora para dentro, sempre só a mesma força que de dentro possa ser contraposta, de maneira a ficar totalmente excluída uma luta desigual. – Enquanto aí não se pecar. Pois todo e qualquer impulso sexual antinatural, que for despertado por estímulo artificial, abre prematuramente esse forte castelo, pelo que a alma ainda não fortalecida uniformemente fica desamparada. Terá de sucumbir às correntezas más de matéria fina, que vêm se precipitando, as quais de outro modo estaria absolutamente em condições de enfrentar.
Em um amadurecimento normal pode haver, devido a fenómeno natural, sempre apenas a mesma força em ambos os lados. A decisão aí, porém, é dada pela vontade do habitante do castelo e não pela dos sitiantes. Assim, com boa vontade, ele sempre vencerá na matéria fina. Isto é, nos acontecimentos do mundo do Além, o qual o ser humano mediano não pode ver enquanto se encontra na Terra, e o qual, no entanto, está estreitamente ligado a ele e de modo muito mais vivo do que o seu ambiente de matéria grosseira a ele visível.
Se o habitante do castelo, porém, espontaneamente, isto é, por desejo próprio ou livre resolução, estender a mão a um amigo ou inimigo de matéria fina que se encontra do lado de fora, ou também a correntezas, então evidentemente é algo completamente diferente. Visto que, através disso, ele se sintoniza com uma determinada espécie dos sitiantes que esperam do lado de fora, estes podem assim, facilmente, desenvolver contra ele uma força dez e até cem vezes maior. Sendo ela boa, receberá auxílio, bênçãos. Sendo, porém, má, colherá destruição. Nessa livre escolha encontra-se a actuação de seu próprio livre-arbítrio. Uma vez que se decidiu a isso, então fica sujeito às consequências, incondicionalmente. Para essas consequências seu livre-arbítrio fica então excluído. Segundo a própria escolha, liga-se a ele carma bom ou mau, ao qual evidentemente está sujeito, enquanto não se modificar interiormente. —
A força sexual tem a tarefa e também a capacidade de “incandescer” terrenalmente toda a intuição espiritual de uma alma. Só assim pode o espírito receber uma ligação certa com a materialidade toda, só assim também se torna de pleno valor, terrenalmente. Apenas então consegue abranger tudo o que é necessário para se fazer valer plenamente nesta materialidade, a fim de estar firme nela, influenciar de modo incisivo, ter protecção e, aparelhado de tudo, exercer vitoriosa resistência.
Há algo grandioso na ligação. Essa é a finalidade principal desse enigmático e imensurável impulso natural! Deve ajudar o espiritual a desenvolver-se nesta materialidade à plena força de actuação! Sem essa força sexual isso seria impossível, por falta de uma transição para a vivificação e o domínio de toda a materialidade. O espírito permaneceria demasiado estranho à materialidade, para nela poder manifestar-se direito.
Com isso, porém, o espírito humano recebe então também a força plena, seu calor e sua vitalidade. Somente com esse processo torna-se terrenalmente preparado para a luta.
Por isso principia aqui, pois, a responsabilidade! Um sério ponto de transição na existência de cada ser humano.
A sábia justiça do Criador outorga ao ser humano, porém, nesse importante momento, também simultaneamente, não apenas a possibilidade, mas sim até o impulso natural para desembaraçar-se com facilidade e sem esforço de todo o carma com que até então sobrecarregou seu livre-arbítrio!
Quando o ser humano negligencia o tempo, então a culpa é dele. Reflecti uma vez sobre isso: com a entrada da força sexual manifesta-se de modo preponderante um impulso poderoso para cima, para tudo o que é ideal, belo e puro! Isso pode ser observado nitidamente na juventude incorrupta de ambos os sexos. Daí o entusiasmo dos anos da mocidade, infelizmente muitas vezes ridicularizado pelos adultos. Por isso também nesses anos as intuições inexplicáveis e levemente melancólicas.
Não são infundadas as horas em que parece que um moço ou uma jovem teria de carregar toda a dor do mundo, quando lhes surgem pressentimentos de uma profunda seriedade. Também o não se sentir compreendido, que tão frequentemente ocorre, contém em si, na realidade, muito de verdadeiro. É o reconhecimento temporário da conformação errada do mundo em redor, o qual não quer nem pode compreender o sagrado início de um voo puro às alturas, e só está satisfeito quando essa tão forte intuição exortadora nas almas em amadurecimento é arrastada para baixo, para o “mais real” e sensato, que lhe é mais compreensível e que considera mais adequado à humanidade, julgando, em seu sentido intelectual unilateral, como o único saudável!
A graça misteriosamente irradiante de uma jovem ou de um moço incorruptos não é outra coisa senão o puro impulso ascendente, intuído juntamente pelo seu ambiente, da força sexual que desperta, visando o que é mais elevado, mais nobre, em união com a força espiritual!
Cuidadosamente, o Criador dispôs que isso ocorra no ser humano apenas em uma idade em que possa ter plena consciência de sua vontade e de sua acção. Então, é chegado o momento em que ele pode e devia libertar-se como que brincando de todo o passado, em ligação com a força plena nele agora existente. Cairia até por si, se a pessoa mantivesse a vontade para o bem, a que ela é impulsionada continuamente nesse período. Poderia, então, como indicam bem acertadamente as intuições, escalar sem esforço àquele degrau ao qual ela pertence como criatura humana! Contemplai o estado sonhador da juventude incorrupta! Não é outra coisa senão a intuição do impulso ascendente, do querer libertar-se de toda a impureza, o anseio ardente pelo que é ideal. A inquietação impulsionadora é, porém, o sinal para não negligenciar o tempo, e sim para libertar-se energicamente do carma e principiar com a escalada do espírito.
É algo maravilhoso estar nessa força concentrada, actuar dentro dela e com ela! Contudo, apenas enquanto a direcção que a pessoa escolher for boa. também, nada há de mais miserável do que malbaratar essas forças unilateralmente em cego delírio sensual, paralisando com isso o seu espírito.
Mas, infelizmente, infelizmente o ser humano negligencia na maioria dos casos esse tão precioso período de transição, deixa-se guiar pelo ambiente “esclarecido” para caminhos falsos que o retêm e, em seguida, levam-no para baixo. Assim não consegue libertar-se das vibrações turvadoras que dele pendem, pelo contrário, estas apenas recebem novo suprimento de forças de sua espécie igual e com isso o livre-arbítrio do ser humano é enredado mais e mais, até que não consegue mais reconhecê-lo, por causa de tantos sufocamentos desnecessários. Assim como nas trepadeiras, às quais um tronco saudável oferece no início apoio auxiliador, e que por fim tiram a vida desse tronco, cobrindo-o inteiramente e estrangulando-o.
Se o ser humano desse mais atenção a si próprio e aos fenómenos em toda a Criação, carma algum poderia ser mais forte do que seu espírito que chega à plenitude de sua força, tão logo receba, através da força sexual, ligação sem lacunas com a materialidade, à qual, pois, pertence o carma.
Mesmo quando o ser humano perde o período, quando se enreda mais, talvez até cai profundamente, apesar disso ainda se lhe oferece oportunidade para a ascensão: através do amor!
Não o amor cobiçoso da matéria grosseira, mas o elevado e puro amor, que nada mais conhece e visa senão o bem da pessoa amada. Ele também pertence à materialidade e não exige nenhuma renúncia, nenhuma penitência, mas apenas quer sempre o melhor para o outro. E esse querer, que jamais pensa em si próprio, constitui também a melhor protecção contra qualquer acto abusivo.
Mesmo na idade mais avançada do ser humano, tem o amor como fundamento sempre de novo as intuições que aspiram por ideais da juventude incorrupta, que esta sente no irromper da força sexual. Contudo, manifesta-se de outra forma: instiga a pessoa madura até o vigor de sua capacidade total, sim, até ao heroísmo. A tal respeito não há limite algum devido à idade. A força sexual persiste, mesmo quando o impulso sexual inferior se acha excluído; pois a força sexual e o impulso sexual não são uma só coisa.
Tão logo uma pessoa dê guarida ao amor puro, seja o do homem pela mulher ou vice-versa, por um amigo, por uma amiga, pelos pais, pelo filho, não importa, desde que seja puro, traz também como primeira dádiva a oportunidade para a remição do carma, que pode dissolver-se mui rapidamente “de modo simbólico”. “Seca”, por não encontrar mais nenhuma ressonância análoga, nenhuma nutrição na criatura humana. Com isso ela torna-se livre! E assim começa a escalada, a redenção das correntes indignas que a prendem em baixo.
A primeira intuição que aí desperta é o julgar-se indigno diante do ser amado. Pode-se denominar esse fenómeno de princípio da modéstia e da humildade, portanto, o recebimento de duas grandes virtudes. A isso se junta o impulso de manter a mão sobre o outro, protetoramente, a fim de que não lhe aconteça algum mal de nenhum lado. O “querer trazer nas palmas das mãos” não é um ditado oco, mas sim caracteriza mui acertadamente a intuição que brota. Nisso, porém, encontra-se uma abdicação da própria personalidade, uma grande vontade de servir, o que, por si só, poderia bastar para eliminar em pouco tempo todo o carma, tão logo essa vontade perdure e não dê lugar a impulsos puramente sensuais. Por último, manifesta-se ainda, no amor puro, o desejo ardente de poder fazer algo bem grande para o outro ser amado, no sentido nobre, de não ofendê-lo ou feri-lo com nenhum gesto, nenhum pensamento, nenhuma palavra, muito menos ainda com uma acção feia. Torna-se viva a mais delicada consideração.
Deve, então, procurar segurar essa pureza da intuição e colocá-la à frente de tudo o mais. Nunca alguém, nesse estado, ainda quererá ou fará algo de mal. Simplesmente não consegue, mas sim, pelo contrário, ele tem nessas intuições a melhor protecção, a maior força, o mais bem-intencionado conselheiro e auxiliador.
O Criador, em Sua sabedoria, deu com isso uma bóia de salvação, que não somente uma vez na existência terrena toca em cada criatura humana, a fim de que nela se segure e por ela se eleve!
O auxílio está à disposição de todos. Nunca faz uma distinção, nem à idade nem ao sexo, nem ao pobre nem ao rico, tampouco ao nobre ou ao humilde. Por essa razão o amor é também a maior dádiva de Deus! Quem compreende isso está certo da salvação de toda aflição e de toda a profundeza!
O amor é capaz de arremessá-lo para cima, com o ímpeto da tempestade, para a Luz, para Deus, que é o próprio amor. —
Tão logo em um ser humano se manifeste amor, que se esforça por proporcionar ao outro luz e alegria, não degradá-lo mediante cobiças impuras, mas sim elevá-lo protetoramente bem alto, então ele o serve, sem se tornar consciente do verdadeiro servir; pois assim torna-se antes um doador desinteressado, um alegre presenteador. E esse servir liberta-o!
A fim de encontrar nisso o caminho certo, atente o ser humano sempre apenas em uma coisa. Paira sobre todos os seres humanos terrenos, de modo imenso e forte, um desejo: poder ser, realmente, diante de si mesmos, aquilo que valem diante daqueles pelos quais são amados. E esse desejar é o caminho certo! Conduz directamente às alturas.
Muitas oportunidades são oferecidas ao ser humano para tomar impulso e ascender, sem que delas se utilize.
O ser humano de hoje é somente como um homem, ao qual foi dado um reino, e que prefere desperdiçar seu tempo com brinquedos infantis.
É apenas evidente e nem se pode esperar de outro modo, que as forças poderosas, que são dadas ao ser humano, terão de destroçá-lo, se não souber dirigi-las.
Também a força sexual terá de destruir o ser humano individual, povos inteiros, lá, onde se abusar de sua finalidade principal! A finalidade da geração só vem em segundo lugar.
E que meios de auxílio oferece a força sexual a cada pessoa, a fim de que também reconheça a finalidade principal e a vivencie!
Pense-se no pudor corpóreo! Este desperta simultaneamente com a força sexual, é dado para protecção.
Como em toda a Criação, há também aqui um trítono, e, ao descer, pode ser reconhecido sempre também um tornar-se mais grosseiro. O pudor, como a primeira consequência da força sexual, deve constituir como transição para o impulso sexual o obstáculo, a fim de que o ser humano em seu alto nível não se entregue à prática sexual animalescamente.
Ai do povo que não dá atenção a isso!
Um forte pudor cuida para que o ser humano jamais possa sucumbir a uma embriaguez dos sentidos! Protege contra paixão; pois, devido a fenómeno completamente natural, jamais permitirá oportunidades para a perda do auto-controle, nem sequer pela fracção de um momento.
Somente com muita força consegue o ser humano afastar, mediante sua vontade, essa maravilhosa dádiva, para então se comportar animalescamente! Tal violenta intromissão na ordem universal do Criador terá, porém, de tornar-se maldição para ele; pois a força do impulso sexual corpóreo assim libertada não é mais natural para ele em seu desencadeamento.
Se falta o pudor, o ser humano transforma-se de senhor em servo, é arrancado de seu degrau humano e colocado ainda abaixo do animal.
Pondere o ser humano, somente acentuado pudor impede a oportunidade de queda. Com isso lhe é dada a mais vigorosa defesa.
Quanto maior for o pudor, tanto mais nobre será o impulso, e tanto mais alto espiritualmente estará o ser humano. É essa a melhor medida do seu valor espiritual interior! Essa medida é infalível e facilmente reconhecível por qualquer pessoa. Com o estrangulamento ou afastamento do sentimento exterior do pudor, ficam também, simultaneamente, sempre asfixiadas as propriedades anímicas mais finas e mais valiosas e, com isso, desvalorizado o ser humano interior.
Um sinal infalível de queda profunda e de decadência certa é quando a humanidade começa, sob a mentira do progresso, a querer “erguer-se” acima da jóia do pudor, tão favorecedora sob todos os aspectos! Seja isso, pois, sob o manto do desporto, da higiene, da moda, da educação infantil ou sob muitos outros pretextos para isso bem-vindos. A decadência e a queda então não podem ser impedidas, e somente um horror da pior espécie poderá levar ainda alguns à reflexão.
E, todavia, é facilitado ao ser humano terreno enveredar pelo caminho que leva às alturas.
Ele precisa apenas tornar-se “mais natural”. Ser natural, porém, não significa andar semi-nu por aí, ou perambular descalço, com trajes extravagantes! Ser natural significa atentar cuidadosamente às íntimas intuições, e não eximir-se veementemente das admoestações das mesmas! Apenas para não parecer antiquado.
Mais da metade de todas as criaturas humanas, porém, já chegaram hoje infelizmente a tal ponto, que se tornaram demasiado broncas para ainda compreender as intuições naturais. Para tanto já se restringiram excessivamente. Um grito de pavor e de horror será o fim disso!
Feliz daquele que então puder vivificar novamente o pudor! Tornar-se-lhe-á escudo e apoio, quando tudo o mais se destroçar.