NA LUZ DA VERDADE (Edição de 1931)


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8. O ser humano na Criação

O ser humano não deve, na realidade, viver segundo os conceitos de até agora, mas ser mais criatura humana intuitiva. Com isso constituiria um elo indispensável ao desenvolvimento contínuo de toda a Criação.

Como reúne em si a matéria fina do Além e a matéria grosseira do Aquém, é possível a ele inteirar-se de ambas e vivenciá-las ao mesmo tempo. Além disso, ainda se encontra à sua disposição uma ferramenta que o coloca no ápice de toda a Criação de matéria grosseira: o intelecto. Com essa ferramenta ele consegue dirigir, isto é, conduzir.

O intelecto é o que há de mais elevado terrenalmente e deve ser o leme durante a vida na Terra, ao passo que a força propulsora é a intuição, que se origina no mundo espiritual. O solo do intelecto é, portanto, o corpo, o solo da intuição, porém, é o espírito.

O intelecto está preso a espaço e tempo, como tudo quanto é terrenal, por conseguinte, somente um produto do cérebro, que pertence ao corpo de matéria grosseira. O intelecto jamais poderá actuar sem espaço e tempo, apesar de ser em si de matéria mais fina do que o corpo, mas ainda demasiadamente espesso e pesado para se elevar acima de espaço e tempo. Está, portanto, inteiramente preso à Terra.

A intuição, porém, (não o sentimento) é sem espaço e tempo, provém, portanto, do espiritual.

Assim equipado, podia o ser humano estar intimamente ligado com a parte mais etérea da matéria fina e até ter contacto com o próprio puro espiritual, mesmo vivendo e actuando no meio de tudo quanto é terrenal, de matéria grosseira. Somente o ser humano é dotado dessa maneira.

Somente ele devia e podia fornecer a ligação sadia e vigorosa, como a única ponte entre as alturas fino-materiais e luminosas e o que é terreno, de matéria grosseira! Somente através dele, devido à sua característica específica, podia a vida pura pulsar da fonte da Luz, descendo até a matéria grosseira mais profunda e dela novamente para cima, na mais harmoniosa e magnífica reciprocidade! Encontra-se entre ambos os mundos, unindo-os, de modo que através dele estes se fundem num só mundo.

Todavia, ele não cumpriu essa missão. Separou esses dois mundos, ao invés de conservá-los firmemente unidos. E isso foi então o pecado original!

O ser humano, devido à característica específica agora mesmo esclarecida, foi colocado realmente como uma espécie de senhor do mundo de matéria grosseira, porque o mundo de matéria grosseira depende de sua mediação, a tal ponto que esse mesmo mundo, de acordo com a espécie do ser humano, foi forçado a sofrer conjuntamente, ou pôde ser elevado através dele, conforme as correntes da fonte da Luz e da vida tenham ou não podido fluir puras através da humanidade.

Mas o ser humano obstruiu o fluxo dessa corrente alternada, necessário para o mundo de matéria fina e o mundo de matéria grosseira. Assim como uma circulação sanguínea boa mantém o corpo vigoroso e saudável, o mesmo acontece com a corrente alternada na Criação. Uma obstrução tem de acarretar confusão e doença, que por fim terminam em catástrofes.

Esse falhar funesto do ser humano pôde dar-se por ele ter utilizado o intelecto, que se origina somente da matéria grosseira, não apenas como instrumento, mas por sujeitar-se totalmente a ele, colocando-o como soberano de todas as coisas. Tornou-se com isso escravo da sua ferramenta, tornando-se apenas ser humano de intelecto, que costuma orgulhosamente denominar-se materialista!

Ao sujeitar-se totalmente ao intelecto, o ser humano acorrentou-se a tudo quanto é de matéria grosseira. Como o intelecto nada pode compreender daquilo que se encontra além de espaço e tempo, é lógico que também não o poderá quem se sujeitou a ele totalmente. Seu horizonte, isto é, sua capacidade de compreensão, restringiu-se juntamente com a capacidade limitada do intelecto. A ligação com o mundo de matéria fina ficou assim desfeita, levantou-se um muro que se tornou mais e mais espesso. Como a fonte da vida, a Luz primordial, Deus, paira muito acima de espaço e tempo e até mesmo muito acima da matéria fina, é natural que, devido ao atamento do intelecto, fosse cortado qualquer contacto. Por esse motivo é inteiramente impossível ao materialista reconhecer Deus.

O provar da árvore do conhecimento outra coisa não foi senão o cultivar do intelecto. A separação da matéria fina, que a isso se liga, foi também o fechamento do Paraíso, como consequência natural. Os seres humanos excluíram-se por si mesmos, ao inclinarem-se totalmente para a matéria grosseira através do intelecto, portanto, rebaixando-se, e forjaram voluntariamente ou por escolha própria sua servidão.

E onde foi dar isso? Os pensamentos do intelecto, exclusivamente materialistas, isto é, baixos e presos à Terra, com todos os seus fenómenos colaterais de cobiça, ganância, mentira, roubo e opressão etc., tinham de ocasionar o efeito recíproco inexorável da igual espécie, que mostrou-se primeiro no espiritual, e, então, passou deste também para o grosso-material, formou tudo correspondentemente, impeliu os seres humanos e por fim se desencadeará sobre tudo com... destruição!

Compreendeis agora que os acontecimentos dos últimos anos tinham que acontecer? Que assim ainda deverá continuar até a destruição? Um julgamento mundial, que, de acordo com as leis cármicas (*Conforme o destino) existentes, não pode ser evitado. Como numa tempestade que se concentra e tem de produzir por fim descarga e destruição. Mas ao mesmo tempo também purificação!

O ser humano não serviu, como era necessário, de elo entre as partes de matéria fina e de matéria grosseira da Criação, não deixou que a indispensável corrente alternada sempre refrescante, vivificante e estimuladora as atravessasse, pelo contrário, separou a Criação em dois mundos, já que se negou a servir de elo e algemou-se inteiramente à matéria grosseira, com isso, ambas as partes do Universo tiveram de adoecer pouco a pouco. A parte que foi obrigada a se ver totalmente privada da corrente de Luz, ou que a recebia demasiadamente fraca, através das poucas pessoas que ainda mantinham ligação, foi naturalmente a que adoeceu mais gravemente. Trata-se da parte de matéria grosseira que, devido a isso, encaminha-se para uma terrível crise e em breve será sacudida por tremendos acessos febris, até que tudo quanto haja aí de doente seja consumido e possa finalmente sarar sob novo e forte influxo proveniente da fonte primordial.

Mas quem, com isso, será consumido?

A resposta se encontra nos próprios acontecimentos naturais: cada pensamento intuído adquire logo, por intermédio da viva força criadora nele contida, uma forma de matéria fina correspondente ao conteúdo do pensamento e permanece sempre ligado como por um cordão ao seu gerador, sendo, porém, atraído e puxado para fora pela força de atracção da igual espécie em tudo quanto é de matéria fina, e impulsionado através do Universo juntamente com as correntes que pulsam constantemente, que, como tudo na Criação, movimentam-se de forma oval. Assim chega o tempo em que os pensamentos, que se tornaram vivos e reais na matéria fina, juntamente com os de sua igual espécie atraídos no percurso, retornam para a sua origem e ponto de partida, visto que, apesar de sua migração, permanecem ligados a este, para então aí se desencadearem, redimindo-se.

A destruição atingirá, portanto, em primeiro lugar, por ocasião da derradeira concentração dos efeitos agora esperados, aqueles que com seus pensamentos e intuições foram os geradores e nutridores constantes, portanto, os materialistas. É inevitável que a devastadora força de retorno abranja círculos ainda maiores, alcançando de leve também espécies apenas aproximadamente iguais dessas pessoas.

Depois, porém, os seres humanos cumprirão aquilo que é seu dever na Criação. Virão a ser o elo, pela sua capacidade de haurir do espiritual, isto é, deixar-se-ão guiar pela intuição purificada, transmitindo-a para a matéria grosseira, para o que é terreno, servindo-se então do intelecto e das experiências adquiridas apenas como ferramentas, de modo a, contando com todas as coisas terrenas, aplicar tais intuições puras na vida grosso-material, com o que toda a Criação de matéria grosseira será constantemente beneficiada, purificada e elevada. Através disso, nos efeitos recíprocos, pode também algo mais saudável refluir da matéria grosseira para a matéria fina, surgindo então um mundo novo, uniforme e harmónico. Os seres humanos, porém, tornar-se-ão, no cumprimento acertado de sua actuação, os tão desejados seres completos e nobres; pois também eles, pela sintonização adequada na grande obra da Criação, receberão forças bem diferentes do que até agora, que os deixarão intuir permanentemente contentamento e felicidade.

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Actualização mais recente desta página: 4 de Março de 2020