NA LUZ DA VERDADE (Edição de 1931)


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31. Moderna ciência do espírito

Moderna ciência do espírito! Quanto se acha reunido sob essa bandeira! O que se encontra aí, e o que também se combate aí! Trata-se de uma arena de sérias pesquisas, de pouca sabedoria, grandes planos, vaidade, estupidez e muitas vezes também de uma vazia fanfarronice e ainda mais de interesses comerciais os mais inescrupulosos. Não raro florescem dessa balbúrdia a inveja e o ódio sem limite, redundando por fim em pérfidas vinganças da mais baixa espécie.

Em tais circunstâncias naturalmente não é de admirar quando muitas pessoas se esquivam de todo esse pandemónio, com um receio como se eles fossem se envenenar, caso entrassem em contacto com isso. Estas não deixam de ter certa razão; pois inúmeros adeptos da ciência do espírito não mostram em sua conduta realmente nada que seduza, muito menos que atraia, mas antes tudo neles adverte cada ser humano para que tenha a máxima cautela.

É curioso que todo o domínio da denominada ciência do espírito, confundida muitas vezes, pelos malévolos ou pelos ignorantes, com a ciência de espíritos, constitua ainda hoje uma espécie de terreno livre, onde qualquer pessoa pode fazer o que bem entende desimpedida, sim, desenfreada e impunemente.

Admite-se isso. Contudo, as experiências já ensinaram mui frequentemente que isso não é assim!

Inúmeros pioneiros nesse campo, que foram suficientemente levianos para ousar avançar alguns passos apenas com conhecimentos imaginários, tornaram-se vítimas indefesas de sua imprudência. Apenas lamentável nisso é que todas essas vítimas tenham caído, sem que com isso pudesse ser proporcionado o mínimo lucro para a humanidade!

Cada um desses casos, na verdade, deveria ter sido uma prova de que o caminho tomado não é o certo, visto ocasionar somente malefícios e até destruição, mas nenhuma bênção. No entanto, com uma teimosia característica são mantidos esses falsos caminhos e feitas sempre novas vítimas; ante cada grãozinho de qualquer evidência reconhecida na gigantesca Criação, é levantada enorme gritaria e são escritas inúmeras dissertações, que devem desencorajar muitos pesquisadores sinceros, porque o tactear incerto aí se torna nitidamente perceptível.

Todo o pesquisar de até agora, na realidade, pode ser chamado de uma perigosa brincadeira com um fundo de boa intenção.

O campo da ciência do espírito, encarado como campo livre, nunca poderá ser pisado impunemente, enquanto previamente não se souber levar em conta as leis espirituais em toda a sua amplitude. Toda e qualquer oposição consciente ou inconsciente, isto é, a “não-observância” das mesmas, o que equivale a uma transgressão, terá de atingir, por efeito de retorno inevitável, o ousado, o frívolo ou o leviano que não as considera ou não consegue observá-las de forma exacta.

Querer percorrer o extraterreno com meios e possibilidades terrenas, outra coisa não é, senão colocar e deixar uma criança ainda não desenvolvida, ainda não familiarizada com os perigos terrenos, sozinha numa mata virgem, onde apenas um adulto, correspondentemente aparelhado, em sua força plena e com toda a cautela, poderá ter probabilidades de atravessá-la incólume.

Não é diferente com relação aos modernos cientistas do espírito em seu actual modo de trabalhar, mesmo que julguem levá-lo extremamente a sério e que realmente só ousem muitas coisas por causa do saber, a fim de, com isso, ajudar os seres humanos a avançar para transpor uma fronteira onde desde há muito aguardam, batendo na porta.

Como crianças esses pesquisadores ainda se detêm ali, desamparados, tacteando, desconhecendo os perigos que a qualquer momento podem lhes sobrevir ou através deles irromper sobre outras pessoas, tão logo com suas experiências incertas cavem uma brecha ou abram uma porta na muralha de natural protecção que, para muitos, seria melhor se permanecesse fechada.

Tudo isso só pode ter a designação de leviandade, e não de ousadia, enquanto os que querem avançar assim não souberem exactamente se são capazes de dominar imediatamente, de modo total, todos os perigos que possivelmente venham a se apresentar, não apenas para eles próprios, mas também para outros.

De maneira a mais irresponsável agem aqueles “pesquisadores” que se ocupam com experiências. Sobre o crime da hipnose *(Dissertação Nº 35: O crime da hipnose) várias vezes já foi feita referência. Os pesquisadores que ainda empreendem experiências de outra espécie cometem na maioria dos casos o lamentável erro, que eles, nada sabendo a respeito – pois do contrário certamente não o fariam –, colocam outras pessoas muito sensíveis ou mediúnicas em sono magnético ou até hipnótico, a fim de com isso aproximá-las das influências corporeamente invisíveis do mundo do “Além”, na esperança de poder assim ouvir ou observar algo, que em estado de completa consciência diurna das respectivas pessoas em experiência não seria possível.

No mínimo, em noventa e cinco de cem casos expõem tais pessoas a grandes perigos, aos quais ainda não são capazes de se contrapor; pois toda a sorte de ajuda artificial para o aprofundamento constitui um atamento da alma, devido ao qual ela entra num estado de sensibilidade que vai além do que o permitiria seu desenvolvimento natural.

A consequência é que tal vítima das experiências encontra-se de súbito animicamente num campo onde está privada de sua protecção natural devido à ajuda artificial, ou para o qual não possui a sua protecção natural, que só pode surgir pelo próprio e saudável desenvolvimento interior.

Deve-se imaginar figuradamente tal pessoa, digna de lástima, como se fosse amarrada nua num poste e impelida como chamariz para uma região perigosa, a fim de atrair e até deixar actuar sobre si a vida e actuação ainda desconhecida, para poder dar um relato a respeito, ou para que diversos efeitos se tornem visíveis também a outros, mediante a sua cooperação, colocando à disposição certos elementos terrenos de seu corpo.

Tal pessoa submetida à experiência consegue assim, temporariamente, através da ligação que a sua alma impelida precisa manter com o corpo terreno, transmitir aos espectadores tudo o que acontece, como que por meio de um telefone.

Se com isso, porém, a sentinela, posta assim artificialmente em área avançada, vier a sofrer qualquer ataque, não conseguirá defender-se por falta de protecção natural, está exposta de forma desamparada, porque, através da cooperação de outrem, fora impelida apenas artificialmente para um campo, ao qual, de acordo com seu próprio desenvolvimento, ela ainda não pertence, ou absolutamente nem pertence. Tampouco o assim chamado pesquisador que a empurrou para lá, por avidez de conhecimento, poderá auxiliá-la, uma vez que ele próprio é estranho e inexperiente lá de onde vem o perigo, não podendo por isso fazer nada em prol de qualquer protecção.

Assim acontece que os pesquisadores involuntariamente se tornem criminosos e sem que possam ser levados à justiça terrena. Isso não exclui, porém, que as leis espirituais exerçam seus efeitos retroactivos com toda a severidade e acorrentem o pesquisador à sua vítima.

Várias pessoas submetidas a experiências sofrem agressões de matéria fina cujo efeito, com o tempo, muitas vezes também rápida ou imediatamente, também se faz sentir fisicamente na matéria grosseira, evoluindo para uma doença terrena ou a morte, com o que, porém, o dano anímico ainda não estará reparado.

Entretanto, os observadores que se denominam pesquisadores, que empurram suas vítimas para regiões desconhecidas, permanecem durante tais perigosas experiências, na maioria dos casos, bem abrigados terrenamente, sob a protecção de seus corpos e da consciência diurna.

Raro é o caso de tomarem parte simultaneamente nos perigos a que as pessoas são submetidas nas experiências, e que tais perigos, portanto, estendam-se imediatamente sobre eles. Mas com sua morte terrena, com o trespasse para o mundo de matéria fina, por causa do atamento às suas vítimas, terão que seguir em todo caso até lá, para onde quer que estas tenham sido arrastadas, só podendo, em conjunto com elas, elevar-se lentamente de novo.

O empurrar artificial de uma alma para outro campo não deve ser entendido sempre como se tal alma abandonasse o corpo e flutuasse para uma outra região. Na maior parte dos casos ela permanece calmamente no corpo. Apenas é sensibilizada pelo sono magnético ou hipnótico de maneira anómala, de modo a captar correntes e influências muitíssimo mais finas do que seria possível em estado natural. É evidente que nesse estado anormal não existe a força plena da qual, do contrário, disporia se tivesse chegado até esse ponto por si própria, através do desenvolvimento interior, e assim se manteria firme e segura nesse terreno novo e bem mais subtil, contrapondo a todas essas influências a mesma força. Devido a essa falta de força plena e sadia, decorre pela artificialidade uma desigualdade, que tem de acarretar perturbações. A consequência disso é a absoluta turvação em todas as intuições, ocasionando deformações da realidade.

A causa dos falsos relatos e dos inúmeros erros é dada sempre de novo apenas pelos próprios pesquisadores através de sua ajuda prejudicial. Provém daí, também, que nos muitos assuntos já “pesquisados” do campo oculto, já existentes, muita coisa não se deixa harmonizar com a severa lógica. Encontram-se, aí, inúmeros erros que até hoje não puderam ser reconhecidos como tais.

Por esses caminhos visivelmente erróneos, não será alcançado o mínimo sequer, que pudesse ter algo de útil ou benéfico para os seres humanos.

De proveito para os seres humanos pode ser na realidade apenas algo que os ajude para cima ou que, pelo menos, mostre um caminho para tanto. Mas tudo isso é de antemão e para sempre totalmente impossível nessas experiências! Mediante ajuda artificial poderá, às vezes, um pesquisador conseguir afinal empurrar uma pessoa de sensibilidade mais apurada ou mediúnica para fora do corpo de matéria grosseira terrena, para o mundo de matéria fina que se acha mais próximo dela, nunca, porém, mais alto um milímetro sequer do que o nível a que, de qualquer forma, ela pertença por sua conformação interior. Pelo contrário, por meio de ajuda artificial nem conseguirá elevá-la até lá, mas sempre tão-somente ao ambiente mais próximo de tudo quanto é terrenal.

Esse ambiente mais próximo do terrenal, porém, só pode conter do Além tudo aquilo que ainda se acha estreitamente ligado à Terra e que, devido à sua mediocridade, vícios e paixões, permanece acorrentado a ela.

Naturalmente, também alguma coisa mais adiantada estará, aqui e acolá, de modo transitório nesse ambiente. Isso, porém, não é de se esperar sempre. Algo elevado não pode encontrar-se aí, por motivos absolutamente de acordo com as leis naturais. Seria mais fácil o mundo sair dos seus eixos ou... seria preciso que houvesse numa pessoa uma base para ancoragem da Luz!

Não é admissível, porém, que isso se dê em uma pessoa que se submete à experiência ou em um pesquisador que assim tacteia. Portanto, permanecem o perigo e a inutilidade de todas essas experiências.

É certo também que algo realmente mais elevado não pode se aproximar de um médium sem a presença de uma pessoa mais desenvolvida, purificando tudo o que é mais grosseiro, menos ainda falar através do médium. Materializações (*Corporificações na matéria grosseira) de círculos mais elevados não entram absolutamente em consideração, e muito menos ainda os passatempos engraçados e populares de batidas, movimentação de objectos e assim por diante. O abismo para tanto é grande demais, para que possa ser transposto sem mais nem menos.

Não obstante a presença de um médium, todas estas coisas só podem ser efectuadas por aqueles do Além que ainda estejam mui estreitamente ligados à matéria. Se fosse possível de outro modo, isto é, que algo elevado pudesse se colocar tão facilmente em contacto com a humanidade, então não teria havido necessidade de Cristo tornar-se ser humano, pelo contrário, poderia ter cumprido sua missão sem esse sacrifício. *(Dissertação Nº 14: O Salvador) Os seres humanos de hoje, porém, seguramente não se encontram mais desenvolvidos animicamente do que na época terrena de Jesus, não sendo, por conseguinte, de supor que uma ligação com a Luz seja mais fácil de se estabelecer do que naquela época.

Agora os adeptos da ciência do espírito, no entanto, alegam que visam em primeira linha averiguar a vida no Além, isto é, a continuação da vida depois da morte terrena, e que, devido ao cepticismo dominante actualmente de um modo geral, é necessária a utilização de armas fortes e grosseiras, isto é, provas terrenas palpáveis, a fim de abrir uma brecha na resistência dos adversários.

Tal argumentação não justifica, porém, que almas humanas sejam sempre e sempre de novo expostas a riscos, assim tão levianamente! Além disso, não há nenhuma necessidade premente para que se queira convencer a todo o custo os adversários malévolos! É notório, e também já expresso nas palavras de Cristo, que estes não estariam propensos a acreditar, mesmo que um anjo descesse directamente do céu para lhes anunciar a Verdade. Assim que o anjo fosse embora, estariam prontos a declarar que tudo não passara de uma ilusão colectiva, mas não de um anjo, ou então arranjariam qualquer outra desculpa. E se alguma coisa ou uma pessoa for trazida, que continue na matéria, isto é, não desaparecendo outra vez nem se tornando invisível, então existem novamente outras desculpas, justamente porque para os que não propendem a acreditar em um mundo do Além isso seria também demasiado terreno. Não recuariam em classificar como fraude semelhante prova, de apontar tal ser humano como um lunático, um fantasista ou até mesmo como um impostor. Quer seja demasiadamente terrenal ou extraterrenal ou as duas coisas juntas, sempre terão algo para criticar ou duvidar. E não tendo mais ao que recorrer, lançam então imundícies, passando também a ataques mais fortes, não receando empregar actos de violência.

Para convencer esses tais, pois, não é adequado recorrer a sacrifícios! E menos ainda para muitos dos assim chamados adeptos. Estes julgam, devido a uma singular espécie de arrogância e a uma crença na vida do Além, crença essa na maioria dos casos algo confusa e fantástica, ter o direito de apresentar determinadas exigências para, por sua vez, “ver” ou “vivenciar” algo. Esperam de seus guias sinais do Além, como recompensa por seu bom comportamento. Tornam-se, muitas vezes, até ridículas as expectativas evidentes que vivem expondo, bem como o sorriso de perdão benevolente com ares de sabedoria com que deixam transparecer a própria ignorância. É veneno querer dar também ainda espectáculos a essas massas; pois, por se julgarem muito sapientes, tais experiências são consideradas por eles no máximo como horas de divertimento bem merecido, para o que os do Além devem concorrer como artistas de circo.

Abandonemos, porém, agora uma vez as experiências de grande porte e examinemos as menores, como a movimentação de mesas. Estas não são absolutamente tão inofensivas conforme se pensa, pelo contrário, constituem pela incrível facilidade de propagação um perigo muito sério!

Disso cada qual deveria ser advertido! Os entendidos devem se afastar com horror, quando vêem com que leviandade se opera com tais coisas. Quantos adeptos procuram mostrar seu “saber” em diversas rodas, propondo experiências mediante movimentação de mesas, ou então introduzem em famílias, quer sorrindo, quer sob sussurros misteriosos, as experiências com letras e copos ou outros recursos, experiências essas mais parecidas com brincadeiras, onde, mediante o leve toque da mão por cima do copo, este se movimenta ou é atraído em direcção a diferentes letras, formando palavras. Com rapidez sinistra tudo isso se desenvolveu à categoria de divertimentos sociais, onde são praticados sob risadas, escárnio e às vezes agradáveis arrepios.

Diariamente reúnem-se então, em família, senhoras mais idosas e mais moças em torno de uma mesa, ou mesmo isoladamente, diante de letras desenhadas numa cartolina e que, sempre que possível, devem ser dispostas de modo bem determinado, para que não faltem ostentações místicas, incitando à fantasia que, aliás, é aí absolutamente dispensável; pois tudo decorreria mesmo sem isso, quando a respectiva pessoa possui alguma propensão para tanto. E dessas há inúmeras!

Os modernos cientistas do espírito e os dirigentes dos círculos de ocultismo alegram-se diante do facto de se formarem aí palavras e frases reais sem o influxo mental consciente ou inconsciente do praticante. Ele deve, com isso, ser convencido, aumentando assim o número de adeptos do “oculto”.

Os escritos de orientação ocultista apontam para isso, os oradores intervêm a favor, meios auxiliares são fabricados e vendidos, facilitando assim todo esse abuso, e dessa forma quase todo o mundo do ocultismo se apresenta como prestimoso servo das trevas, na sincera convicção de serem com isso sacerdotes da Luz!

Esses acontecimentos por si só já comprovam a completa ignorância que reina nas tendências ocultistas desse tipo! Mostram que nenhum dos que a isso pertencem é deveras vidente! Não deve servir de contraprova, se algum bom médium se desenvolveu aqui e acolá de tais origens, ou, pelo contrário, o que é mais certo, se um bom médium, no começo, foi atraído temporariamente para isso.

As poucas pessoas que de antemão são predestinadas a isso têm em seu próprio desenvolvimento natural uma protecção vigilante e cuidadosa de espécie inteiramente diversa e que se estende de degrau em degrau, protecção esta que os outros não desfrutam. Tal protecção actua, contudo, também só num desenvolvimento próprio natural, sem nenhuma ajuda artificial! E isso exactamente porque somente em tudo quanto é natural é que repousa uma protecção como algo evidente.

Tão logo surja nisso a menor ajuda, seja ela pelos exercícios da própria pessoa ou advenha de outra parte por sono magnético ou por hipnose, deixa assim de ser natural e desse modo já não se ajusta mais totalmente às leis naturais, as únicas capacitadas a oferecer protecção. Se a isso se juntar ainda a ignorância existente agora por toda parte, então a fatalidade está aí. O querer somente jamais substituirá a capacitação quando se trata de agir. Ninguém, porém, deve ultrapassar a própria capacitação.

Evidentemente não está excluído que, entre as centenas de milhares, que se dedicam a essas brincadeiras perigosas, aqui e acolá uma pessoa escape impune e esteja bem protegida. Do mesmo modo muitas outras somente serão prejudicadas de uma forma ainda não perceptível terrenamente, de modo que apenas depois de seu desenlace terão de reconhecer, de repente, que tolices de facto cometeram. Contudo, também existem muitas que são atingidas por danos já terrenamente visíveis, mesmo que durante sua existência terrena também nunca cheguem ao reconhecimento da verdadeira causa.

Por essa razão, tem de ser explicado uma vez o fenómeno de matéria fina e espiritual durante essas brincadeiras. É do mesmo modo simples, como tudo na Criação, e de forma alguma tão complexo, contudo, também bem mais grave do que muitos imaginam.

Da maneira como a Terra se apresenta actualmente, as trevas ganharam supremacia sobre toda a matéria, devido à vontade da humanidade. Elas se encontram, portanto, em todas as coisas materiais, a bem dizer, como que em terreno próprio e familiar a elas, podendo, devido a isso, também actuar plenamente na matéria. Acham-se, portanto, em seu elemento, combatem em um terreno que bem conhecem. Por esse motivo, na actualidade, elas se mostram superiores à Luz em tudo quanto é material, isto é, de matéria grosseira.

A consequência disso é que em toda a matéria a força das trevas é mais forte que a da Luz. No entanto, em tais divertimentos, como a movimentação de mesas, etc., a Luz, isto é, algo elevado, não entra absolutamente em consideração. Podemos falar no máximo de algo ruim, portanto, escuro, e de algo melhor, portanto, mais claro.

Servindo-se então uma pessoa de uma mesa ou de um copo, ou, aliás, de qualquer objecto grosso-material, coloca-se assim em um terreno de luta familiar às trevas. Um terreno que todas as trevas consideram como seu. Ela, assim, cede-lhes de antemão uma força, contra a qual não pode opor nenhuma protecção eficiente.

Observemos, uma vez, uma actividade espírita ou também qualquer divertimento social com a mesa e sigamos aí os fenómenos espirituais, ou melhor, os de matéria fina.

Quando uma ou mais pessoas se dispõem em torno de uma mesa com a intenção de entrar em contacto com os do Além, seja que estes se manifestem através de pancadas, ou através da movimentação da mesa, o que é mais comum, a fim de através desses sinais poder formar palavras, desde logo esse contacto material faz atrair principalmente as trevas, que passam a se encarregar das mensagens. Com grande habilidade utilizam-se de palavras não raro pomposas, procuram responder os pensamentos das pessoas, fáceis de ler para eles, na forma desejada, porém, conduzem-nas sempre por trilhas falsas em questões sérias, e procuram, se isso ocorre frequentemente, colocá-las pouco a pouco sob sua influência sempre crescente, e assim, vagarosa, contudo, seguramente, arrastá-las para baixo. Com isso, mui astutamente, deixam os desencaminhados na crença de que estão subindo.

Caso, porém, logo de início ou também em qualquer outra ocasião apareça e se manifeste algum parente falecido ou amigo, chegando a expressar-se por intermédio da mesa, facto que se dá frequentemente, então o embuste ainda se torna mais facilmente realizável. As pessoas reconhecem que deve ser realmente um determinado amigo que se manifesta e por isso crêem que é sempre ele, quando através da mesa cheguem quaisquer comunicações, mencionando-se como autor o nome daquele conhecido.

Mas tal não é o caso! Não apenas as trevas sempre atentas utilizam habilmente o nome, a fim de dar às mensagens enganadoras um aspecto o mais acreditável possível, adquirindo assim a confiança das pessoas indagadoras, mas vai até mesmo a ponto de um elemento escuro se imiscuir numa frase iniciada pelo amigo real, terminando-a intencionalmente de modo falso. Sucede então o facto pouco conhecido de na transmissão de uma frase simples e ininterrupta haver dois implicados. Primeiro, o autêntico amigo, talvez bem claro, portanto, mais puro, e depois um mais obscuro, mal-intencionado, sem que o indagador perceba algo disso.

As consequências disso são fáceis de imaginar. O que confia é iludido e abalado na sua fé. O adversário utiliza-se do acontecimento para o fortalecimento de suas zombarias e de suas dúvidas, às vezes para fortes ataques contra a causa toda. Na realidade, porém, ambos estão sem razão, devendo tudo ser atribuído à ignorância que predomina sobre todo esse campo.

O fenómeno, contudo, desenrola-se com toda a naturalidade: caso esteja na mesa um amigo mais claro e verdadeiro, manifestando-se a fim de satisfazer o desejo daquele que formula as perguntas, e se intromete um espírito escuro, terá o mais claro de retroceder, pois o mais escuro pode desenvolver uma força mais forte, através da matéria mediadora da mesa, porque actualmente toda a matéria é o campo das trevas propriamente dito.

Tal erro comete o ser humano que escolhe coisas materiais, criando assim de antemão um terreno desigual. O que é espesso, pesado, portanto, escuro, já se encontra em densidade mais próximo da matéria grosseira do que aquilo que é luminoso, puro e mais leve, e assim, devido à ligação mais estreita, desenvolve maior força.

Por seu turno, todavia, o que é mais claro, e que ainda pode se manifestar através da matéria, dispõe igualmente ainda de uma densidade até certo grau contígua, pois do contrário nem seria mais possível uma ligação com a matéria para fins de qualquer comunicação. Isso pressupõe uma contiguidade com a matéria, a qual traz consigo, por sua vez, a possibilidade de uma conspurcação, logo que, através da matéria, se realize a ligação com as trevas. Para não incorrer nesse perigo, não resta outra coisa ao mais claro do que se retirar depressa da matéria, isto é, da mesa ou de outros meios auxiliares, assim que um mais escuro se aproprie deles, para desligar o elo intermediário, que constituiria uma ponte sobre o natural abismo separador e, com isso, protector.

Não poderá ser evitado do lado do Além, então, que em tais casos a pessoa, que se entrega a tais experiências, servindo-se da mesa, tenha que ser exposta às influências baixas. Foi ela quem também não quis outra coisa, pelo seu próprio modo de agir; pois o desconhecimento das leis também não consegue protegê-la aqui.

Com esses acontecimentos ficará esclarecido para muitas pessoas muito do que até agora era inexplicável, inúmeras contradições enigmáticas encontram sua solução, e tomara que agora também muitas pessoas deixem de lado tais divertimentos tão perigosos!

Do mesmo modo minucioso, poderiam então ser descritos também os perigos de todas as demais experiências que são muito maiores e mais fortes. Contudo, limitemo-nos por enquanto a esses assuntos mais usuais e disseminados.

Somente um outro perigo deve ainda ser mencionado. Por causa desse tipo de perguntas e da exigência de respostas e conselhos, as pessoas acabam se tornando muito indecisas e dependentes. O contrário daquilo que a existência terrena tem por finalidade.

O caminho é errado seja qual for a sua direcção! Só acarreta danos, nenhuma vantagem. É um arrastar-se pelo chão, onde há o perigo de encontrar sempre de novo vermes repugnantes, de desperdiçar suas forças e, por fim, ficar extenuado no percurso... por nada!

Com essa “ânsia de pesquisar”, porém, ocasionam-se também grandes danos aos que se acham no Além!

A muitos escuros é dada assim a oportunidade, são com isso até directamente levados à tentação de praticar o mal, carregando-se com nova culpa, o que, do contrário, não lhes seria tão fácil. Outros, porém, devido ao constante atamento a desejos e pensamentos, são impedidos em seus esforços para ascender. Pela observação clara desses métodos de pesquisa se patenteia quanto tudo isso, muitas vezes, é puerilmente teimoso, perpassado do mais desconsiderado egoísmo sem consideração e ao mesmo tempo tão tolo, que se chega a mover de um lado para o outro a cabeça e perguntar como é possível, enfim, que haja quem queira abrir para a colectividade em geral um território do qual ele próprio realmente não conhece um passo sequer.

É erróneo também que a pesquisa toda se desenrole diante do público em geral. Com isso cria-se pista livre para os fantasistas e impostores, (*Palradores, vigaristas) e dificulta-se à humanidade a adquirir confiança.

Em nenhum outro campo já ocorreu isso. E toda investigação, da qual o pleno sucesso hoje é reconhecido, teve antes, na fase de pesquisa, numerosos fracassos. Todavia, não se deixava o público co-participar tanto! Ele se cansa disso e, com o tempo, perde qualquer interesse. A consequência é que, ao encontrar finalmente a Verdade, a força principal de um entusiasmo transformador e eficaz teve antes de se perder. A humanidade já não consegue mais recuperar ânimo para uma alegria jubilosa que tudo arrasta de forma convencedora.

Os reveses no reconhecimento de caminhos errados tornam-se armas afiadas nas mãos de muitos inimigos, os quais podem com o tempo incutir em centenas de milhares de seres humanos uma desconfiança tal, que esses dignos de lástima, por ocasião do surgimento da Verdade, não mais desejarão examiná-la seriamente, por grande receio de nova ilusão! Taparão seus ouvidos, que de outra forma teriam aberto, perdendo assim o último lapso de tempo que ainda podia dar-lhes o oportunidade de escalar rumo à Luz. Com isso as trevas obtiveram então uma nova vitória! Podem agradecer aos pesquisadores que lhes estenderam as mãos para isso e que de bom grado e orgulhosos atribuem a si o título de dirigentes das modernas ciências do espírito!

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Actualização mais recente desta página: 4 de Março de 2020