NA LUZ DA VERDADE (Edição de 1931) |
“Quem aceita a minha Palavra, aceita a mim”, disse o Filho de Deus a seus discípulos, “em verdade come da minha carne e bebe do meu sangue!”
Esse é o sentido das palavras que o Filho de Deus pronunciou quando instituiu a Ceia, e as quais ele simbolizou com a Ceia em memória de sua peregrinação pela Terra. Como podia ocorrer que a tal respeito eclodissem violentas disputas entre os eruditos e as igrejas. O sentido é tão simples e tão claro, se a criatura humana colocar como base que o Filho de Deus, Jesus Cristo, era a Palavra de Deus encarnada.
Como poderia ele falar a esse respeito mais nitidamente do que com as simples palavras: “Quem aceita a minha Palavra, come do meu corpo e bebe do meu sangue!” Também quando disse: “A Palavra é verdadeiramente meu corpo e meu sangue!” Tinha, pois, de falar assim, porque ele próprio era a Palavra Viva em carne e sangue. Em todas as transmissões somente foi omitido sempre de novo o principal: a indicação à Palavra que peregrinou pela Terra! Por esta não ter sido entendida, julgavam-na de pouca importância. Com isso, porém, toda a missão de Cristo foi mal compreendida e mutilada, desfigurada.
Também aos discípulos do Filho de Deus não foi dada naquele tempo, apesar de sua fé, a possibilidade de compreender acertadamente as palavras de seu Mestre, assim como tantas coisas, ditas por ele, nunca compreenderam direito. A esse respeito o próprio Cristo manifestou sua tristeza com bastante frequência. Formaram simplesmente o sentido da Ceia àquela maneira como haviam compreendido em sua simplicidade infantil. É evidente aí que reproduzissem também as palavras, pouco claras para eles, de maneira correspondente à sua própria compreensão, não, porém, assim como o Filho de Deus as tinha em mente. —
Jesus era a Palavra de Deus encarnada! Portanto, quem acolheu direito a sua Palavra dentro de si, este acolheu com isso a ele próprio.
E se uma pessoa deixa se tornar viva dentro de si a Palavra de Deus a ela oferecida para que, assim, torne-se-lhe uma evidência no pensar e no actuar, então ela, com a Palavra dentro de si, também torna vivo o espírito de Cristo, porque o Filho de Deus foi a Palavra Viva de Deus encarnada!
A criatura humana tem apenas de se esforçar para penetrar finalmente nesse curso de pensamentos de modo certo. Não deve apenas ler e tagarelar a respeito, mas também precisa procurar vivificar com imagens esse curso de pensamentos, isto é, vivenciar serenamente o sentido em imagens vivas. Então também vivenciará realmente a Ceia, pressupondo-se que reconheça nisso o recebimento da Palavra Viva de Deus, cujo sentido e querer ela naturalmente deve conhecer antes a fundo.
Não é tão cómodo assim, conforme pensam tantos fiéis. Aceitação bronca da Ceia não pode lhes trazer nenhum proveito; pois aquilo que é vivo, como a Palavra de Deus, quer e também deve ser tomado de modo vivo. A Igreja não consegue insuflar vida à Ceia para outrem, enquanto esse participante da Ceia não houver antes preparado em si próprio o lugar para recebê-la direito.
Vêem-se igualmente quadros que visam reproduzir a bela expressão: “Eu bato à porta!” Os quadros são certos. O Filho de Deus está parado diante da porta da cabana e bate, querendo entrar. No entanto, o ser humano aí já adicionou novamente algo do seu próprio pensar, ao deixar ver pela porta entreaberta a mesa posta na cabana. Surge assim o pensamento de que não deve ser repelido ninguém que peça de comer e de beber. O pensamento é belo e também corresponde à Palavra de Cristo, mas interpretado de modo demasiado restrito nisso. O “Eu bato à porta” significa mais! A caridade é apenas uma pequena parte do conteúdo da Palavra de Deus.
Quando Cristo diz: “Eu bato à porta”, quer ele dizer com isso que a Palavra de Deus, por ele corporificada, está batendo à porta da alma humana, não para pedir ingresso, mas sim exigindo entrada! A Palavra dada às criaturas humanas em toda a sua plenitude deve ser aceita por estas. A alma deve abrir sua porta para a entrada da Palavra! Se obedecer a essa exigência, então, os actos de matéria grosseira da criatura humana terrena serão como evidência de tal modo, como o exige a “Palavra”.
A criatura humana sempre procura apenas uma compreensão intelectiva, o que significa desmembramento e com isso também diminuição, um estabelecimento de limites mais restritos. Por isso, incorre sempre de novo no perigo de reconhecer apenas fragmentos de tudo o que é grande, conforme também aqui sucedeu novamente.
A encarnação, portanto, corporificação, da Palavra Viva de Deus deverá permanecer sempre um mistério aos seres humanos terrenos, porque o início desse fenómeno desenrolou-se no divinal. Até no divinal, porém, a capacidade de compreensão do espírito humano não consegue penetrar, ficando assim vedada à compreensão da criatura humana a primeira fase para a futura encarnação. Portanto, não é surpreendente que exactamente essa acção simbólica do Filho de Deus, que consistiu na distribuição do pão e do vinho, ainda não pudesse ser compreendida até hoje pela humanidade. Mas quem depois desse esclarecimento, que lhe permite imaginar um quadro, ainda quiser bradar contra tal propósito prova apenas que o limite de sua compreensão termina no espiritual. Sua defesa em favor da explicação literalmente antinatural de até então dessas palavras de Cristo testemunharia apenas uma obstinação inescrupulosa.